3.10.12
Russomanno propõe educação sobre aids no ensino fundamental
Celso Russomanno (PRB) tem 55 anos, é casado e pai de dois filhos. Natural de São Paulo, formou-se em Direito em 1984 e também atuou como jornalista.
Em 1994 foi eleito pela primeira vez deputado federal, sendo o mais votado do Brasil. Sua linha de atuação foi em torno da construção do Código de Defesa do Consumidor. Russomano também foi vice-presidente da CPI do Narcotráfico em 1999.
Leia a seguir a entrevista na íntegra:
Presidente do GAPA, Áurea Abbade: Qual será sua principal política de combate à aids na prefeitura?
Celso Russomanno: Falar abertamente sobre DSTs e aids ainda parece ser um tabu em nossa sociedade. A prevenção ainda é o melhor remédio nesse caso. Mas os contextos mudam para se trabalhar. O equipamento municipal de saúde possui em sua estrutura serviços voltados ao atendimento da população assim divididos: CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento), SAE (Serviço de Assistência Especializada), CR (Centro de Referência), AE (Ambulatório de Especialidades). Todos gratuitos.
Sabemos também que apesar de todas as campanhas para evitar o contágio, o numero de casos novos aumentou significativamente, não existindo mais grupo de risco. Ainda usar o preservativos em todas as relações sexuais (oral, anal e vaginal) é o método mais eficaz para a redução do risco de transmissão das DSTs, em especial do vírus da aids, o HIV. Outra forma de infecção conhecida é pela transfusão de sangue contaminado ou pelo compartilhamento de seringas e agulhas, principalmente no uso de drogas injetáveis. A aids também podem ser transmitidas da mãe infectada para o bebê durante a gravidez e/ou no parto, bem como na amamentação. O tratamento das DSTs/aids melhora a qualidade de vida do paciente e tende a interromper a cadeia de transmissão dessas doenças. Nesse contexto, o programa de governo trabalhará com prevenção seja no nível educacional em parceria com a Secretaria da Educação em projetos pedagógicos que tratem o tema no ensino fundamental, após devidas consultas aos pais de alunos e comunidade em geral, seja no nível de melhorar as relações entre governo e população, despindo-se de preconceitos contra os dependentes químicos e tratando os casos como saúde pública, além de manter a política de “redução de danos”, orientá-los para terapias específicas.
Diretor da EPAH, José Araújo Lima Filho: O Programa Municipal de DST/Aids atualmente é extremamente técnico e não tem poder político. Este Programa encontra-se amarrado às regionais de saúde, que pouco entendem das especificidades da aids. Caso seja eleito, o Programa Municipal terá autonomia política para trabalhar suas estratégias dentro do município?
Russomanno: Nos programas de combate/tratamento à aids existem os dois lados: dos profissionais que trabalham no equipamento municipal de saúde e dos portadores do HIV que os utilizam. O que faremos é resgatar o poder de “Estado” e a autonomia do poder público municipal ao fazer políticas públicas de saúde. A prefeitura vai assumir o compromisso de gerir efetivamente as políticas públicas e fiscalizar os trabalhos/resultados apresentados a partir de diretrizes da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) e da OMS (Organização Mundial de Saúde). Nesse sentido, com os profissionais que atuam no sistema, não só teremos conversas técnicas como estimularemos os aperfeiçoamentos e atualizações acerca do tema. Não visualizamos profissionais que “pouco entendem das especificidades”. Do lado dos portadores, estimularemos para que, caso as demandas não estejam em acordo com as diretrizes, façam parte das instâncias previstas no SUS, como o Conselho Municipal de Saúde.
Presidente do GIV, Claudio Pereira: Como pretende enfrentar a falta de profissionais de saúde, especialmente de infectologistas nos SAEs (Serviços de Atenção Especializa em DST/Aids)?
Russomanno: Um grande problema encontrado hoje nos serviços em geral é que os médicos não ficam. Eles chegam, mas devido a uma série de fatores acabam por deixar os cargos. O médico tem uma formação acadêmica para dar resolutividade e, muitas vezes, nos serviços acabam por não encontrar condições para essa expectativa de resultados. Iremos melhorar essas condições começando pelas salariais passando pela infra-estrutura e em casos extremos extinguir possíveis desvios de funções.
Presidente do Fórum de ONG/Aids do estado de São Paulo, Rodrigo Pinheiro: As unidades que atendem internações relacionadas à aids estão super-lotadas e muitas não aceitam mais pacientes. Qual sua estratégia para enfrentar esta crise?
Russomanno: A estratégia para o enfrentamento da aids vai depender do estágio da doença. Mas consideremos para sua pergunta o atendimento da doença em fase hospitalar. Geralmente, os tratamentos se dão em locais onde vários tipos de doenças são tratados. Se por um lado seria ideal um local especifico só para o HIV, por outro socialmente ainda é inviável. Portanto, é ideal utilizar os leitos hospitalares municipais em sua totalidade (que hoje tem uma reserva em porcentagem de números de leitos para a iniciativa privada) para poder avaliar a real capacidade hospitalar e a falta de leitos. Enquanto isso, firmar contratos com centros privados para o tratamento específico, até a construção de hospitais municipais se forem necessários e onde precisar.
Representante do MNCP, Nair Brito: Como avalia a qualidade da atuação da prevenção às DST/Aids no município, principalmente na questão da redução de danos para usuários de drogas?
Russomanno: As políticas de prevenção a transmissão do HIV ainda são o melhor remédio para evitar o contágio. Mesmo com tantas campanhas o número de infectados aumentou. As campanhas publicitárias em todos os tipos de mídias fazem o seu papel. Porém, os números mostram o contrário. Isso pode ser reflexo de uma construção social acerca do HIV. Portanto, a primeira coisa a se fazer é acabar com o maior mal: o preconceito. Trabalharemos em parcerias com a educação, segurança, diversidade, turismo e todos os setores que possuam o munícipe, no sentido de acabar com o estigma do portador de HIV. Para os usuários de droga, teremos programas efetivos e eficazes nos quais estes jamais serão considerados bandidos ou casos de polícia médica. Serão respeitados como humanos e cidadãos/cidadãs e encaminhados para locais e profissionais específicos.
Coordenador do Mopaids, Américo Nunes Neto: Qual a sua sobre as Organizações Sociais que acabam “terceirizando” alguns serviços de saúde?
Russomanno: O SUS prevê que a iniciativa privada entre no sistema público de saúde pela “saúde suplementar”. Não consideramos totalmente más as OS (Organizações Sociais) e os serviços prestados, desde que estejam em acordo com as diretrizes e orçamentos municipais. Nesse caso, as OSs acabam firmando contratos com o poder público municipal para a prestação de serviços. O modelo de trabalho utilizado pelas OSs, está teoricamente previsto nos contratos com a prefeitura. Caso não esteja em acordo, o correto é rever esse contrato e se for o caso até rescindi-lo. Uma vez firmado o contrato, a prefeitura deve fiscalizar com mais seriedade, periodicamente, o andar das coisas. Ouvir a população e, a partir das falas de quem se utiliza dos serviços contratados, teremos mais elementos para poder analisar caso a caso.
Confira neste sábado, 29 de setembro, a entrevista com o candidato Fernando Haddad.
__A sequência de publicações das entrevistas levou em conta a ordem alfabética dos nomes dos candidatos.
Cada candidato ficará como destaque principal da página pelo mesmo período de tempo, 24 horas.
Saiba mais sobre as ONGs e Redes que participaram desta entrevista:
GAPA: Fundado em 1985, o Grupo de Apoio à Prevenção à Aids (GAPA) de São Paulo foi uma das primeiras organizações não governamentais de resposta à aids em toda a América Latina. A discussão principal do grupo foi apresentar para a sociedade uma proposta bem definida: não se tornar um braço armado do Estado, mas que tivesse à função de agente crítico, para as políticas estatais voltadas à questão da saúde, e especificamente em relação à aids.
Entre os objetivos do GAPA-SP, destacam-se: lutar legalmente contra a discriminação e contra comportamentos lesivos aos direitos humanos dos portadores de HIV e aids; pela melhoria do atendimento médico, hospitalar e psicológico dos soropositivos; fornecer apoio humano e emocional a todos os portadores e pacientes, bem como a seus familiares e amigos e apoio material aos pacientes mais carentes; e informar e esclarecer a população em geral a respeito do HIV e da aids. O grupo tem hoje como uma das suas atividades principais o atendimento jurídico gratuito aos portadores do vírus e ações educativas de prevenção às DST/aids. A sede do GAPA-SP fica na Rua Amaral Gurgel, 447. Vila Buarque, Centro. www.gapabrsp.org.br
EPAH: A organização nasceu em 1994. Entre os anos de 2001 e 2008, abrigou a sede brasileira da Associação François Xavier Bagnoud (AFXB). Em 2009, voltou a atuar de forma independente, sob o nome EPAH (Espaço de Prevenção e Atenção Humanizada). O significado da sigla deixa claro os dois principais eixos de atuação da organização: monitoramento dos serviços de saúde voltados às pessoas vivendo com HIV e a realização de ações de prevenção ao vírus focadas no público jovem.
A missão do EPAH é atender crianças, adolescentes e familiares infectados, afetados e/ou vulneráveis ao HIV/aids, por meio de assistência nas áreas do: Bem Estar Social, Saúde, Educação, Direitos Humanos e Prevenção. Com a finalidade de alcançar uma integração efetiva e participativa do indivíduo na Sociedade, por meio de ações éticas. O EPAH está sediado na Rua João Bernardo Vieira, 387. Campo Limpo. Região Sul da cidade. www.epah.org.br
GIV: O Grupo de Incentivo à Vida (GIV) foi criado em 1990 com o objetivo de fortalecer as respostas comunitárias no combate à aids no País. Além do apoio social e jurídico aos portadores do vírus HIV, o grupo promove ações no âmbito da prevenção e da luta pelos direitos humanos e contra o preconceito. No GIV, as pessoas com HIV e aids também têm acesso a serviços de massagens, apoio psicológico individual e em grupo, palestras, cursos e oficinas, dentro outras atividades.
Entre as metas do GIV, destacam-se: contribuir para o empoderamento de pessoas vivendo com HIV/AIDS para a garantia de acesso a seus direitos fundamentais; promover a integração social dos portadores do HIV entre si e seus familiares, amigos e profissionais de diferentes áreas e segmentos; e buscar alternativas para a prevenção e controle do desenvolvimento da doença, instrumentalizando seus membros e a sociedade em geral com informações e subsídios atualizados. A sede do GIV fica na Rua Capitão Cavalcanti, 145, Vila Mariana, zona Sul. www.giv.org.br
Fórum de ONG/Aids do estado de São Paulo: Iniciou suas atividades em 1996 na capital paulista com o objetivo de incentivar e promover campanhas de prevenção, apoio e educação, orientar, acompanhar e denunciar qualquer tipo de violação das leis vigentes que prejudiquem os direitos e os deveres das associações afiliadas ou não. No decorrer dos anos fortaleceu as articulações das ONG/Aids junto aos organismos públicos através de denuncias de formas de omissão, transgressão e violação dos direitos humanos. Tem como filiadas cerca de 170 ONGs em todo o estado.
O Fórum busca elaborar propostas conjuntas que visem fortalecer a atuação das ONG entre si e perante autoridades públicas, civis e religiosas com o intuito de influir na legislação pertinente no sentido de conquistar e assegurar novos direitos e/ou alterar dispositivos contrários ou prejudiciais à prevenção do HIV e assistência aos portadores do vírus. www.forumaidssp.org.br
Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas: Fundado em 2004, o MNCP reúne mulheres vivendo com HIV e aids de todo o Brasil.
Entre os objetivos desta rede estão: Defender e garantir os direitos e controle social de política de saúde para mulheres; formar mulheres nas temáticas de direitos humanos, estigma e discriminação, saúde sexual e saúde reprodutiva, controle social de políticas públicas; promover o fortalecimento individual e coletivo das mulheres que vivem com HIV e aids para atuação em ações de prevenção; construir nas diversidades existentes no Brasil uma identidade de mulheres com HIV/Aids cunhada no exercício da cidadania.
O MNCP lidera hoje o projeto “Saber para Reagir em Língua Portuguesa”, que realiza encontros com mulheres soropositivas de todas as regiões brasileiras e em outros países de língua oficial portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe) com o objetivo de fortalecer as capacidades de atuação dessas mulheres de firmarem compromissos junto ao poder público. mncpbrasil.blogspot.com.br
Mopaids: Criado em 2001 com o nome de Fórum Municipal de ONG/Aids, se tornou em 2002 o Movimento Paulistano de Luta contra Aids (Mopaids). Esta rede de 15 ONGs/Aids tem por objetivo articular as organizações municipais da sociedade civil que enfrentam à epidemia na cidade, estabelecendo um diálogo constante entre o movimento social e o Programa de DST/Aids da Prefeitura.
Por suas finalidades e atribuições, o Mopaids compõe o Fórum de ONG/Aids do estado de São Paulo, a Rede de Pessoas Vivendo com HIV e Aids e Conselheiros Gestores de Saúde da cidade de São Paulo, e assim visa potencializar ações de políticas públicas de saúde integradas, junto à Secretaria Municipal de Saúde, cujo propósito é refletir, socializar compreensões e potencializar críticas e intervenções propositivas. A sede provisória do grupo fica nas dependências do Instituto Vida Nova, no bairro de São Miguel Paulista, zona leste da cidade.
http://www.agenciaaids.com.br/noticias/interna.php?id=19702