Tratar os pacientes com HIV (vírus da imunodeficiência humana, VIH na
sigla em português) pouco tempo após terem sido infetados poderá ser o
suficiente para alcançar uma "cura funcional". É o que revela um novo
estudo francês, que se debruçou sobre uma pequena amostra de indivíduos
diagnosticados precocemente com o vírus causador da SIDA.
Os autores da investigação, publicada este mês na revista científica
PLoS Pathogens, acompanharam 14 pacientes que foram tratados imediamente
depois do diagnóstico com medicamentos antirretrovirais e, depois,
pararam o tratamento, mantendo-se sem qualquer terapia ao longo de mais
de sete anos e não mostrando, ainda assim, quaisquer sinais de regresso
do vírus.
Citada pela AFP, Christine Rouzioux, professora do Necker Hospital e da
Universidade Paris Descartes, em França, que integrou a equipa que
identificou o HIV há 30 anos e participou neste estudo, afirma que os
novos resultados mostraram que o número de células infetadas em
circulação no sangue dos pacientes, conhecidas como "controladores
pós-tratamento", continuou a diminuir mesmo sem a existência de terapia
por muitos anos.
"Um tratamento precoce administrado a estes pacientes poderá ter
limitado o estabelecimento de reservatórios virais e preservado as
respostas do sistema imunitário. Uma combinação dos dois fatores pode
contribuir para controlar a infeção", explica Rouzioux. "O facto de os
reservatórios virais 'encolherem' corresponde à definição de cura
funcional", acrescenta.
Estudo surge após caso de bebé "curada" nos EUA
Estudo surge após caso de bebé "curada" nos EUA
Segundo os especialistas, a "cura funcional" descreve um estado em que,
mesmo sem a continuação do tratamento, o HIV é reduzido a níveis tão
baixos que pode ser controlado pelo organismo sem a necessidade de
fármacos, mesmo que continue a ser detetável através de exames.
Recorde-se que os resultados desta investigação chegam pouco depois do
anúncio, no início deste mês, da "cura funcional" de uma bebé no
Mississippi, EUA, após ter recebido tratamento poucas horas após o
nascimento.
A maioria dos 34 milhões de pacientes com HIV espalhados por todo o
mundo tem de tomar medicamentos antirretrovirais ao longo de toda a
vida. Embora os fármacos ajudem a controlar o problema têm elevados
efeitos secundários e custos muito altos para os sistemas de saúde, o
que torna relevante qualquer passo em frente na investigação.
Asier Sáez-Cirion, investigador sénior do Institut Pasteur, em Paris,
autor principal do estudo, diz acreditar que, mesmo que grande parte dos
pacientes não possa controlar o HIV, os que receberem tratamento
precocemente poderão ter esperança de fazê-lo.
"[Estes dados] e a notícia que nos chegou do Mississippi apoiam
fortemente a utilização de um tratamento precoce e podem constituir
pistas importantes no desenvolvimento de uma estratégia para a cura do
HIV ou, pelo menos, para a indução de um controlo a longo-prazo sem a
necessidade de tratamento antirretroviral", antecipa Sáez-Cirion.
Clique AQUI para aceder ao estudo (em inglês).
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