18.3.13

Carga viral em estágios iniciais da infecção por HIV está fortemente correlacionada com a do parceiro transmissor

A carga viral das pessoas infectadas recentemente pelo HIV apresenta uma relação estreita com a da pessoa que transmitiu o vírus, de acordo com um estudo norte-americano publicado na edição online da AIDS. “Encontramos uma forte correlação entre os níveis de RNA-HIV do parceiro fonte da infecção e do parceiro receptor”, afirmaram os pesquisadores.
O estudo também permitiu perceber um pouco melhor alguns dos fatores que contribuem para a manutenção da atividade da epidemia de HIV, como por exemplo, o fato de que cerca de dois terços dos indivíduos que transmitiram o vírus tinham sido eles próprios infectados recentemente.
A carga viral nas fases mais precoces da infecção tem sido identificada como um fator com importância na progressão da doença, tendo os indivíduos com maior carga viral nesses estádios um prognóstico globalmente mais desfavorável.
A investigação sobre os fatores que influenciam a carga viral na fase inicial da infecção tem, até o momento, se centrado sobretudo nas características do indivíduo receptor. Desta maneira, um grupo de investigadores do UCSF Options Project procurou explorar o impacto sobre a carga viral das características relacionadas com o vírus.
Eles tentaram determinar a relação entre a carga viral do paciente-fonte e da pessoa por ele infectada, em pares de parceiros devidamente identificados, numa investigação que envolveu 24 indivíduos receptores com evidência de infecção HIV recente.
Estes indivíduos forneceram informação sobre as pessoas que eles acreditavam terem sido a fonte de transmissão do HIV. Com o devido consentimento, essas pessoas foram contatadas pelos pesquisadores, e depois de terem concordado em participar do estudo, forneceram a sua história clínica da infecção (realização do teste, tratamentos etc.) e realizaram diversas análises.
Deste modo, foram identificados e incluídos no estudo um total de 23 indivíduos fonte (um deles havia transmitido o HIV a dois parceiros), num total de 47 indivíduos, todos homossexuais masculinos, tendo sido usada uma análise filogenética para confirmar a relação entre o vírus dos parceiros fonte e o vírus dos receptores.
Os indivíduos recentemente infectados apresentavam uma contagem de CD4s média de 528 células/mm3 e uma carga viral média de 86.332 cópias/ml. Já nos indivíduos fonte a contagem de CD4s média era de 372 células/mm3 e a carga viral de 23.951 cópias/ml.
Destaca-se que as características dos vírus de nove dos indivíduos transmissores revelavam que eles próprios haviam sido infectados há pouco tempo, fato que vem na linha das conclusões de outras pesquisas, que sugerem que os indivíduos recém-infectados – e, por isso mesmo, geralmente indivíduos não diagnosticados – são de crucial importância no controle da epidemia do HIV.
Quatro dos transmissores tinham história de terapêutica ARV. Um deles tinha interrompido o tratamento ao fim de três meses, e outro pouco antes do início deste estudo. Nenhum tinha carga viral indetectável: esta variava entre as 6.776 e as 137.000 cópias/ml.
A análise posterior mostrou que as cargas virais dos pacientes transmissores e das pessoas infectadas apresentavam uma correlação estreita (p = 0.009). Assim, a carga viral do parceiro recém-infectado aumentava em cerca de 0.43 log10 por cada log10 de aumento na carga viral do transmissor.
Em seguida, os pesquisadores conduziram uma análise para ver se essa relação se mantinha ao longo do tempo, num estudo restrito aos parceiros receptores que não haviam iniciado a terapêutica ARV, tendo chegado à conclusão de que ao fim de 48 semanas existia uma correlação significativa entre a carga viral dos transmissores e a dos receptores.
Merece destaque, entretanto, que o ajuste feito para outros fatores que potencialmente influenciariam os resultados – como a idade, raça e outras características virais – não afetou estas conclusões.
“Em resumo, as nossas observações sugerem a existência de uma forte influência de fatores genéticos do vírus sobre os níveis de RNA-HIV durante as etapas iniciais da infecção”, concluem os autores do estudo. Que acrescentam: “são necessárias mais pesquisas para melhor identificar as características genéticas virais associadas a níveis mais ou menos elevados de RNA-HIV, assim como para melhor compreender as respostas imunes do hospedeiro com influência na replicação viral ao longo do tempo”.
Referência: Hecht FM et al. HIV RNA level in early infection is predicted by viral load in the transmission source. AIDS, vol. 24, nº 7, p. 941-945, 24 April 2010. Para acessar o abstract deste artigo, clique aqui.

Fonte: NAM / Aidsmap

http://www.infectologia.org.br/default.asp?site_Acao=mostraPagina&paginaId=134&mNoti_Acao=mostraNoticia&NoticiaId=15647