Comer de três em três horas, em porções equilibradas, já
nem é mais conselho de nutricionista – é quase como um senso comum. Com
tanta informação disponível sobre educação alimentar, parece
inacreditável que uma dieta que propõem justamente o contrário – a
privação total da alimentação – esteja caindo nas graças de milhares de
pessoas nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Popularizada por meio do best seller The Fast Diet,
do jornalista Michael Mosley, a “intermittent fasting”, também
conhecida por aqui como “dieta do jejum intermitente”, a novidade vem
arrepiando os cabelos dos especialistas da área.
Mosley propõe um plano alimentar batizado de “5:2”, que
significa comer normalmente por cinco dias e, na sequência, comer apenas
um-quarto da quantidade diária de calorias por dois dias consecutivos.
“Funciona com 500 calorias para mulheres e 600 para os homens”, diz ele,
em seu site.
Ele escreveu o livro baseado na própria experiência.
Depois de receber um puxão de orelha do seu médico, por estar acima do
peso e com os níveis de colesterol desregulados, decidiu pesquisar
diversos métodos e optou pelo jejum. No seu site, ele afirma que viu a
saúde melhorar e o ponteiro da balança diminuir, afirmando que perdeu
mais de 9 quilos ao longo de 2012.
Ouvidas pelo Terra, as nutricionistas
Vivian Ragasso, do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitacao e Medicina
do Esporte, e Vivian Zollar, da Qualy Food, ambas de São Paulo, são
enfáticas em afirmar que a dieta não traz resultados efetivos. Segundo
elas, o peso vai embora, mas a restrição pode causar males à saúde e
bagunçar o metabolismo. Além disso, como ninguém consegue passar a vida
em jejum, a tendência é os quilos perdidos acabarem voltando. Saiba mais
como isso funciona.
Gordura x músculo
De acordo com Ragasso, a dieta do jejum não traz benefício nenhum. “Não funciona porque você não chega a perder gordura. Você até vai ver alguns quilos a menos na balança, mas isso porque está eliminando água e massa muscular”.
De acordo com Ragasso, a dieta do jejum não traz benefício nenhum. “Não funciona porque você não chega a perder gordura. Você até vai ver alguns quilos a menos na balança, mas isso porque está eliminando água e massa muscular”.
Em entrevista ao jornal The Huffington Post,
Mosley rebate este paradigma. Ele afirma que reduziu a sua taxa de
gordura corporal de 28% para 20% e diz ainda que alguns estudos
comprovam a perda de gordura a partir do método.
Zollar concorda que é possível sim reduzir a gordura com
jejum, mas isso não sobrepõe o prejuízo causado pela perda muscular.
“Não existe lógica nessa dieta porque uma hora o corpo vai tentar
recuperar o que perdeu. O fato de ele ter testado a dieta não significa
nada, porque é preciso saber se isso tem evidência científica e se as
pesquisas feitas seguiram os mesmos critérios”.
Corpo em estado de alerta
Ragasso afirma que, em situações de emergência, o corpo trabalha com reservas. Basicamente, existem as células de gordura e as musculares, que são fisicamente ativas e comandam o metabolismo. “O nosso músculo é renovado diariamente, porque comemos proteínas e as gastamos. Se você perde músculo e água, o seu metabolismo fica lento”, explica.
Ragasso afirma que, em situações de emergência, o corpo trabalha com reservas. Basicamente, existem as células de gordura e as musculares, que são fisicamente ativas e comandam o metabolismo. “O nosso músculo é renovado diariamente, porque comemos proteínas e as gastamos. Se você perde músculo e água, o seu metabolismo fica lento”, explica.
A gordura fica armazenada de uma forma muito protegida
dentro do corpo, e ela só sai quando você parar de comer gordura, não
quando parar de comer
Vivian Ragasso
nutricionista
Nessa escassez de recursos, a gordura é a última reserva
que o corpo vai buscar. “A gordura fica armazenada de uma forma muito
protegida dentro do corpo, e ela só sai quando você parar de comer
gordura, não quando parar de comer. Depois de um tempo em jejum, o corpo
vai entender que está passando por um estado de privação de energia,
então passará a armazenar”.
Ela explica que é difícil mensurar quantos quilos uma
pessoa pode perder com este tipo de restrição, porque tudo depende do
estado de saúde e das informações nutricionais de cada pessoa, mas em
média pode chegar até 5 kg semanais.